
O trabalho de Zorn reflete o caldeirão que envolveu sua formação e história. Um dos momentos mais intrigantes de seu território sem fronteiras foi o Painkiller, formado na década de 90. O trio contava com Mick Harris (um dos pais do Napalm Death e do grindcore) na bateria, o que atraiu a atenção de ouvidos extremos de outras partes para Zorn. Masada, Naked City, 'soundtracks', releituras da ‘Jewish music’ e de clássicos de Ornette Coleman (Spy X Spy), Zorn demonstra não estar satisfeito a rótulos ou limites de gêneros. Ao fundar o selo Tzadik, em 95, encontrou uma forma de tocar e lançar seus variados projetos, eliminando barreiras que sufocam tantos músicos. Nas últimas três décadas, editou uma infinidade de álbuns, com resultados bastante variados.
Encontrar músicas e informações sobre Zorn espalhados pela web não é tarefa difícil: o cara é mesmo um ícone contemporâneo da radicalidade. Há até sites _como ‘Zornography’ e ‘Tzadikology’_ que se dedicam apenas a propagar a obra dele. Além disso, boa parte de sua extensa discografia permanece em catálogo. Selecionei, então, um ‘bootleg’, um encontro de Zorn com a baterista Susie Ibarra no aclamado Vision Festival, em 1997. A dupla gravaria depois um exelente disco oficial, que faz parte da série 50th Birthday Celebration (Zorn é obcecado por séries), lançado em 2004, que conta ainda com a partipação do trompetista Wadada Leo Smith. Zorn exibe aqui seu sax alto, de sopro mais ligeiro que encorpado, do qual gosta de extrair quebradas e agudas frases, em conversações com Ibarra e seu toque percussivo sutil, pulsante, que, em muitos momentos, ecoa seu mestre Milford Graves.

*John Zorn: alto sax
*Susie Ibarra: drums, percussion
Recorded live at the Angel Orensanz Center, Vision Festival (NY), on May 28th, 1997