Blue Notes reunion

O Blue Notes surgiu em 63, na África do Sul, tendo à frente Chris McGregor, Dudu Pukwana (alto), Mongezi Feza (trumpet), Nick Moyake (tenor), Johnny Dyani (bass) e Louis Moholo (drums). Neste mesmo ano, o grupo ganhou o prêmio “Best Jazz Group” em seu país. Como contamos há pouco, em 64 saíram da África do Sul para se apresentar no Antibes Jazz Festival e se fincaram na Europa. Essa leva de jazzistas sul-africanos trazia uma marca de relevo: era formada por músicos negros e brancos, em um momento de Apartheid e Mandela na prisão.


A vida dos integrantes do Blue Notes em solo europeu não foi fácil. Como é comum ocorrer com os músicos de jazz distantes do mainstream, os sul-africanos tiveram de peregrinar por vários países europeus (Inglaterra, França, Dinamarca, Itália), o que acabou pesando na dissolução do grupo ainda nos 60. Eles se reencontrariam e tocariam juntos muitas vezes, participando também do novo grupo liderado por McGregor, a partir de 69, o Brotherhood of Breath.
O Blue Notes acabou se reunindo, sob essa denominação, em alguns momentos marcantes para seus componentes, como a morte de Mongezi Feza em 75 e, depois, a morte de Johnny Dyani em 87.
As gravações do Blue Notes são mínimas, parte sendo essas homenagens póstumas que fizeram. Uma caixa foi lançada há poucos anos, reunindo suas gravações. Desse Blue Notes For Mongezi, que poderá ser conhecido aqui, foi lançada uma versão diferente, expandida, possivelmente com a íntegra das apresentações que geraram o disco _que reúne captações ao vivo que foram editadas na época devido às limitações do vinil. Para a versão completa dos shows, apenas procurando o CD... mas vale lembrar que, por três décadas, essa versão do vinil (disponibilizada aqui) foi a “versão oficial”....


O espírito do Blue Notes carrega a mistura de ritmos e percussão africanos com a livre improvisação, mas em um sentido muito particular, distinto do Brotherhood of Breath (seu herdeiro direto) e dos trabalhos solos de seus integrantes. O trabalho percussivo e mesmo certa ‘cantoria’ espalhada, às vezes, em meio ao desenvolvimento das faixas remetem a criações de Pharoah Sanders nos 60/70, além de ecoar material do clássico Art Ensemble of Chicago _na verdade, se alguém ecoava alguém, talvez o melhor seria especular que foram os músicos americanos que deglutiram o Blue Notes...
O saxofonista Dudu Pukwana provavelmente seja o grande nome do álbum. Pukwana ocupa aqui o espaço reservado a seu sopro e ao trompete de Mongezi e não deixa passar a oportunidade (atenção ao 2º movimento!). Grandes músicos em um belo álbum.

"Blue Notes For Mongezi": Recorded live in 23 december 1975
1: 1st Movement - 22:35
2: 2nd Movement - 19:40
3: 3rd Movement - 19:20
4: 4th Movement - 23:08

*Chris McGregor - piano, percussion
*Dudu Pukwana - alto sax, whistle, percussion, vocals
*Louis Moholo - drums, percussion, vocals
*Johnny Dyani - bass, bell, vocals

*Foto by: Art Ringger. Blue Notes concert at club Africana (Dudu Pukwana/destaque)