A liberdade de Lester Bowie

Além de estarem em número menor, os trompetistas free não alcançaram a repercussão de seus parceiros saxofonistas _nenhum ocupou o posto icônico de um Miles Davis. Está certo que se os ouvintes de música livre forem indagados sobre revelações do trompete certamente se lembrarão de uma vasta lista: Don Cherry, Earl Cross, Don Ayler, Bill Dixon, Marvin Hannibal: porém, qual deles atingiu o status de um Ornette Coleman, um Albert Ayler ou mesmo de David Ware? (mas essa é uma mera curiosidade, sem relevância diante do poder sonoro de suas criações...)

Ao falarmos em trompete free, é inevitável chegarmos ao nome de Lester Bowie (1941-1999). Um dos fundadores do Art Ensemble of Chicago, Bowie é um dos mais talentosos e estimulantes trompetistas desses tempos de música livre _seu solo em “Fanfare for the Warriors”, do álbum homônimo do AEC, é uma das passagens mais explosivas que já ouvi extraídas de um trompete.

Em cerca de três décadas, Bowie explorou o instrumento como poucos, indo além do simples free e flertando _como seus parceiros de AEC_ com várias correntes da great black music: não é difícil se deparar com reverberações de blues, gospel, funk em seus trabalhos _tudo sempre filtrado por sua sensibilidade moderna. Essa 'abertura' de Bowie fez com que se aproximasse até de pagadas mais ‘pops’ na década de 80 _como faria também Miles Davis. Com seu grupo Lester Bowie’s Brass Fantasy, o trompetista buscou uma abordagem mais popular, tendo tocado versões e feito arranjos para temas de Michael Jackson a Marilyn Manson. Essas opções sonoras demonstram a amplitude do termo ‘liberdade’ quando o tema é Lester Bowie...

Todavia, o perfil experimental e avant-garde de Bowie não se restringe ao Art Ensemble of Chicago. Muitos de seus discos solos carregam também a aura radical e exploratória que marca o AEC, como pode ser conferido especialmente em seus álbuns dos 70s, como testemunha este Rope-A-Dope.
Para realizar Rope-A-Dope, o trompetista convocou antigos parceiros seus: do AEC, Malachi Favors e Don Moye; mais o baterista Charles ‘Bobo’ Shaw e Joseph Bowie, seu irmão trombonista. Em um álbum curto, de aproximadamente 35 minutos, Bowie apresenta composições que englobam ecos do blues (St. Louis Blues - Chicago Style) a variações free mais intensas (Mirage).




A1 Tender Openings 9:29
A2 St. Louis Blues (Chicago Style) 9:36

B1 Mirage 6:40
B2 Rope-A-Dope 9:30





ropeA

*trumpet - Lester Bowie
*bass - Malachi Favors
*drums - Charles ‘Bobo’ Shaw (tracks: A1, A2, B2)
*drums, perc.: Don Moye (tracks: A1, A2, B1)
*trombone - Joseph Bowie (tracks: A2, B2)
*violin - Raymund Cheng (tracks: A1)
*congas - Don Moye (tracks: B2)

Recorded on 17 June 1975 at Blue Rock Studios, NYC