O sopro sem fronteiras de Evan Parker

Sendo um dos mais inovadores músicos europeus, o britânico Evan Parker tem exibido desde a década de 60 a singularidade de seu sopro. Em plena atividade, Parker segue explorando as mais variadas formações, do solo aos grandes conjuntos. Sua associação ao Spontaneous Music Ensemble e a participação no seminal álbum Machine Gun, de Peter Brotzmann, representam seus primeiros trabalhos de destaque, ainda nos anos 60. Nos 70s, o saxofonista _que se reveza no tenor e no soprano_ passou a gravar como líder e apresentou suas primeiras incursões na esfera “solo”. Nessa década registrou, paralelamente a Kaoru Abe, apresentações solo que buscavam novas fronteiras para o saxofone.
Há certo exagero quando afirma-se que os músicos europeus surgidos após os 60s amparados na bandeira free não são jazzistas, que suas raízes são outras etc. Mas, no caso do saxofonista britânico, essa afirmação é verdadeira em muitos casos, considerando-se que Parker gosta de explorar mundos bastante distantes do universo do jazz. Na década de 90, por exemplo, fundou o Electro-Acoustic Ensemble, grupo para o qual, junto a seus antigos parceiros Barry Guy (baixo) e Paul Lytton (bateria), convocou músicos encarregados de efetuar modificações sonoras em tempo real, em diálogo com a sonoridade da música eletroacústica contemporânea.
De qualquer forma, Parker é um músico ligado ao mundo do free jazz (não faltam gravações para serem degustadas nesse sentido), sendo um dos maiores nomes da música improvisada.

Descobrir os álbuns solos de Evan Parker significa adentrar a um cosmos muito particular. Sons inimagináveis e nunca antes ouvidos na palheta de outros saxofonistas podem ser encontrados ali. Quem tiver paciência para ouvir Monoceros, gravação 1978, vai se deparar com um pedaço desse cosmos. Paciência porquê não é fácil acompanhar um disco solo, muito menos um disco solo de Parker. Todavia, se o ouvinte resistir ao estranhamento inevitável causado por seus sons singulares, será recompensado com a descoberta de um mundo novo.
Monoceros é constituído por quatro faixas. Não é necessário escutar cada faixa para tentar sentir o mundo de Parker: ao ouvinte, recomendo que sente e deixe a primeira faixa deslizar: seus 21 minutos mostram o melhor de Parker, a forma como tira de seu sax sons únicos. Por meio da respiração circular, o saxofonista alcança momentos em que a frase musical parece não ter cortes nem paradas, se alongando em um som contínuo sem emendas ou fim. A respiração circular é uma técnica na qual o músico trabalha uma execução sem interrupções, não necessitando de pausas para respirar, reinspirando e ressoprando o ar antes expelido. Sem dúvida, Parker é um dos que romperam com as delimitações de gêneros. E Monoceros mostra o que um músico pode fazer amparado apenas por um sax-soprano.



A Monoceros 1 (21:30)
B1 Monoceros 2 (5:12)
B2 Monoceros 3 (8:58)
B3 Monoceros 4 (4:03)

mono

*Evan Parker: sax soprano
Data: 30, abril, 1978