Marcio Mattos ao vivo

Duas apresentações do baixista e celista Marcio Mattos estão programadas para os próximos dias. Carioca radicado em Londres desde a década de 70, Mattos já tocou e gravou com (só para citar alguns) Evan Parker, Eddie Prevost, Paul Rutherford, Tony Oxley e Marilyn Crispell. Na década de 90, formou o grupo de improvisação livre Axon, ao lado do pianista Fred Van Hove e do vocalista Phil Minton, cujas variações vocais únicas pudemos presenciar neste mês em SP.
Como não são comuns as apresentações de música improvisada por essas bandas, a chance de ver Mattos no palco não deveria ser desperdiçada...

*No domingo (dia 25), Mattos estará no CCSP, às 18h, acompanhado de Panda Gianfratti (percussão), Thomas Rohrer (rabeca e sax) e a pianista Michelle Agnes.

*Na quarta-feira (28), o encontro será no Sesc Vila Mariana, às 20h30. Trio com Gianfratti e Rohrer.




Mattos falou, por e-mail, sobre temas ligados à sua criação musical:

***Música improvisada no Brasil:
"Tocar musica improvisada no Brasil sempre foi dificil: ao longo dos muitos anos que vivo em Londres só consegui organizar uma turnê nos anos 80, patrocínio do Conselho Britânico e Cultura Inglesa. Foi um quinteto com Elton Dean (sax),Paul Rutherford (trombone) Harry Beckett (trompete), Liam Genockey (bateria) e eu de baixo. Tocamos em várias cidades desde Sao Luiz ate SP e Santos, passando por Brasília, Ouro Preto, Rio e outras mais. Fomos muito bem recebidos, principalmente em São Paulo, onde tivemos mais de mil pessoas na platéia. Gravamos aí um disco, "Wellcomet", pois foi na ocasião da passagem do cometa Halley. Como me interesso muito por Astronomia, me pareceu um título relevante. Esse grupo era mais jazzístico, embora a musica fosse toalmente improvisada. Daí o meu caminho musical evoluiu num sentido mais abstrato, com sonoridades não inteiramente vindas do free jazz e mais de música contemporânea e eletrônica."

***Formação de público:
"O público para esse tipo de música é, por enquanto, pequeno, embora sinto que, ao menos em São Paulo, está crescendo. Não se trata de uma música comercial, mas também não é elitista, pois atinge diretamente o ouvinte, sem que ele/ela necessitem de conhecimentos mais elaborados de música comtemporânea. A ideia é a de trabalhar com 'sons puros' e livre de conotações culturais ou comerciais pré-estabelecidas. Naturalmente, para os apreciadores do free jazz esses sons já têm alguma familiaridade."

***Cello X Baixo:
"O cello e o contrabaixo acústico têm seus lugares preferidos dentro de cada contexto musical. Utilizo os dois sempre que necessário ou de acordo com cada grupo. Creio que desta vez em SP vou usar mais o cello e a eletrônica."

***Novos músicos
"Na Europa, principalmente em Londres, há toda uma nova geração de músicos jovens de alto calibre se dedicando cada vez mais a esse tipo de música, apesar das dificuldades financeiras e poucas oportunidades de apresentações bem remuneradas. Acho que o futuro está assegurado, pelo menos na Europa."

***Antes de Londres:
“Havia na época (final dos anos 60) já um pequeno movimento de improvisação livre com raízes tanto no free jazz como na música contemporânea _Universidade de Brasília e Instituto Villa Lobos no Rio, onde estava estudando. Mas esse início foi logo abafado com a situação política da época da ditadura. Lembro-me que no encerramento do Festival Latino Americano de Musica Contemporânea (1970) os alunos do Instituto Villa Lobos subiram ao palco do teatro Municipal do Rio para apresentar pela primeira vez uma peça de improvisação livre. Não chegamos ao final: alguém chamou a polícia militar, que entrou em cena para acabar com a ‘diversão’... Isso, entre outras coisas, ocasionou a minha vinda para a Europa.”

O site dele:
http://www.musiclay.co.uk