Ingrid Jensen e seu trompete

Nascida em Vancouver, em 1967, Ingrid Jensen é uma trompetista com uma sonoridade mais ligada ao post-bop. Lançou seu primeiro disco, Vernal Fields, em 94. Sua discografia como líder conta hoje com seis álbuns, sendo Flurry, de 2007, o último lançado.
Associada à orquestra de Maria Schneider, também se apresentou e gravou durante sua carreira com uma extensa lista de músicos, que inclui Jeff “Tain” Watts, Gary Bartz, Dr. Lonnie Smith, Marc Copland, Billy Hart, Clark Terry, dentre outros.
É sempre bom ver uma jazzista se destacar sem estar sentada ao piano ou usando sua voz. E nos últimos tempos temos visto surgir muitas instrumentistas de ponta: Susie Ibarra na bateria, Joëlle Léandre no baixo, Matana Roberts no sax, Nicole Mitchell na flauta. Isso sem falar em Barbara Donald, fantástica trompetista que despontou na cena free na década de 70.

Ingrid esteve no mês passado no Festival Tudo É Jazz, em Ouro Preto. Participou da homenagem à Billie Holiday, morta há 50 anos, que contou ainda com nomes como Ron Carter, Madeleine Peyroux, Bucky Pizzarelli e Anat Cohen. Aproveitando sua passagem pelo país, conversei um pouco com ela sobre seu trabalho:



**O quanto a música de Billie Holiday é importante para você como instrumentista?**
A voz de Billie Holiday e sua presença no jazz têm proporções épicas. Seu caráter e seu fraseado têm sido uma fonte que eu tenho ido buscar mais e mais, como uma trompetista que quer se aproximar de uma vocalista _em vez de soar apenas como uma trompetista. (o que busco é) Dialogar com o canto de Billie Holiday e encontrar sentimentos de paz e beleza na forma como ela se move através de uma melodia ou de uma letra.

**Você escreveu canções para seu último álbum, 'Flurry'. Cada vez mais você se vê como uma compositora?**
Eu escrevi duas das músicas de Flurry, e assino outras de At Sea (disco de 2005). Gosto de compor, mas estou muito insegura em relação a minhas habilidades como compositora (risos). Em parte porquê estou cercada de compositores tão surpreendentes como Maria Schneider, minha irmã Christine (Jensen, saxofonista) e Maggi Olin. Tocar trompete é uma coisa muito natural e livre de se fazer, mas, quando se trata de compor, ainda é um processo muito lento para mim. Estou ansiosa para que chegue dezembro e janeiro, quando eu vou ter bastante tempo para escrever e praticar em casa, em Nova York.

**O quanto você deve aos veteranos do trompete? De onde brotam suas influências?**
Eu tive uma orientação maravilhosa dos veteranos e estou muito preocupada que estejamos perdendo essa tradição. Quando eu era mais jovem fiz todo o esforço que podia, apesar de eu ser muito tímida, para encontrar os “older cats” e questioná-los, ouvir suas histórias. Homens como Clark Terry, Harry ‘Sweets‘ Edison, Art Farmer e Claudio Roditi foram muito importantes, abertos e com muitas ideias para mim. Mas minhas influências são muito amplas. De Chopin a Louis Armstrong, passando pela discografia do Miles e até o álbum mais recente do Radiohead. Se você olhar no meu ipod encontrará um álbum de Milton Nascimento (Lester) que sempre está por lá, e uma tonelada de música africana. Meus ouvidos estão muito abertos a qualquer boa música que vem ao meu encontro. Enquanto se tratar de música tocada por músicos honestos e feita com o coração, quero ouvi-la.

Informações sobre Ingrid Jensen:
http://www.ingridjensen.com