David S. Ware: rebirth


O transplante de rim ocorreu em maio. E David S. Ware mostra que, nessa altura, já está recuperado do transtorno médico. Na edição do último dia 16 do The New York Times, Susan Dominus comentou o retorno do saxofonista aos palcos, que ocorreu na noite de quinta-feira, dia 15, no Abrons Arts Center (Manhattan). Segue o relato de Susan: “Just after 8 p.m., he appeared onstage, gray-bearded, in a purple tunic and a cap, walking slowly and unsteadily with his cane. He looked like a frail, aging king, until he lifted his instrument to his mouth and let loose, for close to an hour, a torrent of wailing, soaring and trilling sounds, every one of them defiant and unexpected.”

Infelizmente o grande quarteto liderado por Ware por quase duas décadas (William Parker no baixo; Matthew Shipp no piano; mais baterista (as baquetas trocaram de mãos algumas vezes)) acabou em 2007 _ao menos deixaram várias gravações para que possamos degustar sua refinada sonoridade... Ao vivo, o David S. Ware Quartet sempre buscou recriar e expandir suas criações, explorando novos elementos no momento palco. De discos oficiais ao vivo, o grupo lançou em 2005 o álbum triplo Live in the World, que reúne apresentações feitas entre 1998 e 2003. Em 2007, soltou Renunciation, gravação de 18 de junho de 2006, feita no XI Vision Festival, em Nova York, que traz a última formação do quarteto: além de Ware, Shipp e Parker, Guillermo E. Brown na bateira.

É essa formação que podemos apreciar em Live at Jazz Festival Saalfelden, na Áustria. O show, captado em 29 de agosto de 1999, nunca foi lançado oficialmente. A sequência que aparece aqui é:

1- Aquarian Sound (25:29)
2 - Lexicon (14:01)
3- The Way We Were I (04.02)
4- The Way We Were II (06.31)

live

Aquarian Sound, que abre a sessão, estende por 25:29 minutos os seus 7:51 da versão original, registrada no álbum Flight of I, de 91. Seguindo o formato clássico, todos os músicos têm seu espaço para solar nessa que é uma das músicas mais belas escritas por Ware. O tema de Aquarian Sound, marcado primeiramente pelo baixo e depois resgatado pelo sax, é daqueles que ecoam longamente mesmo após a música ter se encerrado. Nessa versão live, William Parker dedilha o tema no baixo durante os 3 minutos inicias, antes de o sax entrar em cena para dialogar com ele. Aos 4:20, Ware irá fazer com que seu sopro escape do tema, deslizando e alongando as notas em som rouco e dissonante, em solo que vai crescendo enquanto o baixo abandona o tema central, ao mesmo tempo em que o piano de Matthew Shipp começa a se destacar. O tema volta aos 7:35, no sax, sendo acompanhado por Parker, repetidamente, até os 8:08, abrindo espaço para Shipp conduzir seu solo ao piano, que se estenderá até 13:05; Parker é o próximo a assumir o espaço, dedilhando em destaque até os 17:02, quando Guillermo E. Brown surge em primeiro plano pela primeira vez para fechar um ciclo: o baixo retomará, novamente, o tema central de Aquarian Sound aos 20:15, fazendo a conexão com o início da peça: Ware ressurge aos 20:50 e conduz os músicos ao final: após solar, o saxofonista volta aos 24:20 ao tema inicial para fechar Aquarian Sound.