Trane: uma vida pela música





“Ascension: John Coltrane And His Quest”
Author: Eric Nisenson
Publisher: Da Capo Press (1995)
Language: English / 298 pag.




Não faltam livros sobre John Coltrane no mercado internacional. Alguns oferecem uma exposição mais ampla de vida e obra, outros concentram-se em trabalhos fundamentais, além dos que tentam se focar no perfil biográfico do gênio do sax tenor. Neste “Ascension: John Coltrane And His Quest”, o leitor encontrará uma cobertura mais centrada da vida do músico (focada em pouco mais de uma década), com detalhes e destaques para obras e passagens capitais de sua curta e intensa vivência.
Dividido em duas partes, o livro aborda desde os primeiros encontros de Trane com Miles, entre 54 e 55, até sua morte em julho de 67. Eric Nisenson foi feliz ao dividir as duas partes da seguinte forma: a primeira, chamada de Resolution, vai até a concepção do clássico A Love Supreme; a segunda, Pursuance, segue Trane desse ponto até sua morte.
Nessa biografia intelectual-sonora o autor se compromete a expor passagens da vida do saxofonista, mas sempre dialogando e destacando sua produção musical.
Algumas histórias abordadas no livro, tratadas normalmente como exageros ou mesmo lenda, são tratadas de forma clara e com testemunhos de personagens do período. O relacionamento de Trane com o LSD em seus últimos anos de vida é um desses episódios. O envolvimento de Trane com heroína e álcool até seus 30 anos, lá por 57 _Miles inclusive o expulsou de seu quinteto por esse motivo_ é fato conhecido por todos. Também não é novidade o seu processo de auto-desintoxicação (conta-se que Coltrane se trancou em um quarto no fim dos 50 até se sentir limpo e pronto a sobreviver sem heroína), pelo qual o saxofonista teria encontrado o equilíbrio pessoal e vivido em paz seus últimos anos. Todavia, sempre houve relatos de músicos que conviveram com ele em seu período mais radical, entre 65-67, que testemunhavam seu envolvimento com o LSD _que os biógrafos costumam preferir deixar de lado (o que Nisenson não faz). As sessões de “OM”, por exemplo, teriam sido regadas pelo químico-ativo. Nisenson chega a relatar que Miles disse a ele que “Coltrane morreu de tanto usar LSD”... Mas o quanto ele usou ou não tem pouca relevância: o que importa é até onde seu som chegou. E a preocupação do autor não é com esses detalhes biográficos, que surgem muito mais como amparo a suas teses sonoras.
Amplo e bem documentado painel, “Ascension: John Coltrane And His Quest” é um livro que merece atenção e deve ser conhecido pelos apreciadores desse que foi um dos grandes artistas do século XX.