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New York is Now! The New Wave of Free Jazz
autor: Phil Freeman
Ed.: The Telegraph Company
2001 / 212 pág.
ISBN: 1930606001



O free jazz não foi um sarampão que eclodiu nos 60 e se apagou nos 70, como apregoa a historiografia musical dominante, que aponta os 80/90 como terra dos “young lions”, avatares em um cenário jazzístico devastado. O livro de Phil Freeman busca consertar (ou ao menos dar uma nova visão a) essa contenda histórica tão distorcida. Amparado em entrevistas e profunda vivência da cena atual, Freeman (se o sobrenome não for um pseudônimo é uma curiosa coincidência) mostra como que a música livre permanece atuante na Nova York de hoje. Crítico musical, jornalista e, antes de mais nada, fã de free jazz _assim como de hardcore, death metal e outros estilos de sons radicais _, Freeman dá seu testemunho, que se destaca em meio ao silêncio e à ignorância que impera não só na grande mídia, mas também na dita especializada.
É lamentável que certo historicismo dominante aponte que o free jazz teve seu ápice nos 60, em meio às grandes transformações/reivindicações sócio-político-estéticas do período, e depois definhou. A verdade é que o free apenas perdeu o (limitado, e muito mais ligado à curiosidade em torno de seus primeiros mitos) espaço que ocupava na mídia: mas nunca desapareceu ou viu seu vigor se extinguir.
Freeman alterna em seu livro capítulos dedicados a músicos fundamentais da atualidade (David S. Ware, Charles Gayle, William Parker, Daniel Carter e mais alguns contemporâneos) com outros em que destaca tópicos como o desvirtuamento crítico e histórico em relação à música mais radical e experimental. Em capítulos como “Mentiras que os críticos de jazz me disseram” e “História, como muitas coisas, é subjetiva” busca redelimitar o papel do free na história do jazz (ontem e hoje). Em um mundo habitado por David S. Ware, como que Wynton Marsalis pode ser o deus supremo?
O “neo-tradicionalismo”, capitaneado pelo senhor Marsalis e seu guru Stanley Crouch (que, aliás, participou da cena free na segunda metade dos 70, tendo sido na bateria empolgado parceiro de David Murray), representa apenas mais uma face da música atual e não seu ápice ou a última trilha alcançada pelo jazz. Com um texto muito bem documentado, Freeman oferece um rico relato sobre como essa música permanece atual e gerando novos geniais criadores. Se pensarmos que grande parte dos livros dedicados ao jazz, sua poética e sua história, prefere ignorar o que têm ocorrido nas décadas recentes, o trabalho de Freeman se mostra ainda mais essencial e mesmo obrigatório.