Alice Coltrane (1937-2007) é mais conhecida como pianista, instrumento com o qual realizou seus primeiros projetos relevantes, como a participação no grupo do vibrafonista Terry Gibbs. Tendo estudado com Bud Powell, passou a ser mais conhecida após assumir o lugar de McCoy Tyner no grupo de seu marido John Coltrane. Quando se aventurou como líder em 1968, debutando com o belíssimo “Monastic Trio”, trazia uma expressiva novidade em sua trajetória musical: a harpa. Alice não foi a primeira a ligar a harpa ao jazz. Mas foi a responsável por dar uma dimensão espiritual à sonoridade encantatória da harpa.
Apesar de discreta, a associação entre harpa e jazz é bem antiga: ainda na década de 1930, Adele Girard (1913-1993) chamava a atenção para a inusual associação entre o instrumento e o gênero musical. Um pouco antes até, Casper Reardon (1907-1941), harpista de formação clássica, já havia se aproximado do mundo do jazz, sendo pioneiro nesse encontro. Quem traria realmente tal associação a primeiro plano seria Dorothy Ashby (1932-1986), que deixou variados registros, destacadamente nos anos 60s. A trajetória de Dorothy começa na década de 1950, quando grava com figuras como Roy Haynes, Art Taylor e Jimmy Cobb, dando inédita visibilidade ao instrumento.
Alice Coltrane utilizou a harpa, dividindo espaço com o piano, em todos seus primeiros e principais trabalhos: Monastic Trio (68), Huntington Ashram Monastery (69), Ptah the El Daoud (70) e Journey in Satchidananda (71): pode-se apreciar seu dedilhado à harpa em todos esses álbuns.
Em 1972 (há versões de que o show ocorreu de fato em 1971), Alice reuniu um grupo especial para uma apresentação no Carnegie Hall. Cercada por antigos parceiros de Trane (Archie Shepp, Pharoah, Garrison), executou uma extensa releitura de um clássico traneano de uma década antes: “Africa”. Essa apresentação jamais foi lançada oficialmente e contou com outras faixas, que não aparecem nessa ‘versão pirata’, como “Leo” e “Journey in Satchidananda”. Apesar de estar munida de piano e harpa, como fazia no período, Alice concentra-se em “Africa” no piano. Provavelmente em outros temas, como o citado “Journey in Satchidananda”, tenha se focado na harpa. Destaque para as intensas intervenções de Pharoah e Shepp no começo da música e para os longos solos de baixo.
1. Africa (28:25)
*Alice Coltrane: piano, harp
*Alice Coltrane: piano, harp
*Pharoah Sanders: tenor, flute, percussion
*Archie Shepp: tenor, soprano
*Jimmy Garrison: bass
*Cecil Mcbee: bass
*Ed Blackwell, Clifford Jarvis: drums
*Tulsi: tamboura